sábado, 27 de novembro de 2010

Mosaico



Estou num emaranhado de rabiscos
Na confusão de um mosaico
Sou a incerteza da forma
O erro no cálculo geométrico
A ausência de simetria
O futuro e o pretérito
A desordem na periferia
A imagem obscura na retina
O som com ruídos
Uma tela abstrata
A tecnologia e um primata
A involução
Hoje dominado
Por minhas criações
O pecado de Adão
Perdido no tempo
E no espaço
Entre guerras e lágrimas
Entre fome e falta d’água
Falta amor
A quem sobra o dinheiro
Resta a miséria
Ao mundo inteiro
Sou o “não sei mais o que fazer”
Sou o fim da raça
A desgraça
De ser consumido por meus atos
Do suicídio
Ao queimar minha casa
Ao contaminar minha água
Ao explodir o mundo
Buummmm...
Quem quer dinheiro?
Agora saque no inferno
E barganhe com o diabo.


                                     Jacques Manz

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fogo e gasolina



Atrito pedra com pedra
Fogo
Atrito meu corpo em teu corpo
Queima
Seu calor absorve o meu
Somos um só corpo em
Flama
O vai e vem na cama
Esbraseia
O suor é como combustível
Incendeia
Fogo e gasolina
Ustão em mim
Transpira parafina
Derreta-te como uma vela
Pinga em mim
As faúlhas
Aumenta meu fogo
Você centelha
Eu fogueira
Vamos arder na noite
Ser brasa ao amanhecer
Amor de fogo
Fogo de prazer
Prazer em chamas
Se tu me chamas
Se tu me tocas
Se tu me amas.

                                                       Jacques Manz

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Abstinência



                                                                                    Desenho Jacques Manz
Tu que me privastes
Os beijos
Tu que me negastes
Os carinhos
Tu que se desviastes
Do meu caminho
Não me prives de sonhar
Nem me ocultes a rima
Desapareças de mim
Destrua minha obra prima
Versos de quem passa fome
De quem precisa mendigar
O amor que come.
Hoje com chapéu na praça
Uma moeda de pirraça
Uma nota de sumiço
Amanhã com chapéu vazio
Sem teu amor vadio
Devolva o que levastes
Não me reconheço no espelho
Clamo por penitência
Onde enterrara minha essência?

                   
                                                               Jacques Mannz

domingo, 21 de novembro de 2010

Triângulo amoroso



                                                                                     Desenho: Jacques Manz


Sou ângulo reto
Três lados é demais
Para que tantos vértices?
Um nunca te satisfaz.
Colorindo multidão de desejos
Pinto suas vontades tortas
Controlo meu ciúme preto e branco
Risco sua moralidade remota.
Pontas para todos os lados
Você não sabe aonde ir
Seduz-me com armas fortes
Prende-me não me deixa partir.
Triângulo amoroso
Somos nós na aquarela
Mistura de tons
Com a vaca amarela.
Congruência
Simetria
A cama está pequena
Assino a carta de alforria.

                                                        Jacques Manz





sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Quando fim...



Quando frio
Sou rio
Remanso de água quente
Doce, interflúvios na mente.
Quando sonhar
Somar
Caldos e afogados
Sou má.
Quando menino
Traquino
Quebro seus brinquedos
Segredos e medos.
Quando Lua
Menstrua
1/4 crescente
Fertilidade dormente
Sou crua.
Quando sol
Irradia
Esconde no horizonte
Atrás de mim, monte
De amores e fantasia.
Quando talvez
Saraiva
Sua dúvida
Minha raiva.
Quando fim...


                                         Jacques Manz

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

L'amour paradoxal



Mon appui
Ton indifférence
Nos bagarres
Ma dévouement
Tes entêtements
Notre faillite
Ma démence
Ta insesibilité
Notre infortune
Ma patience
Ta transgression
Notre desaffection
Mon zéle
Ton mépris
Notre angoisse
Ma dignité
Ta pitié
Notre dénouement

                                            Jacques Manz

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

L'art d'aimer



J’offre ma vérité
Dans une coupe de vin
Bois-tu de mon amour
Jusqu'a te saoûler de moi.
Je peindrai ton visage dans les nuages
Tu seras ma oeuvre d´art
Je serai ton créateur
Nous serons complices
Apprenti et professeur.
Vin est art
Peinture est art
Tu es une oeuvre d’art
Je peux rester sans boire
Je peux rester sans peindre
Mais Je ne vis pas sans toi.

                                                                                            Jacques Manz

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quando tudo acaba



Um beijo da serpente
Um bote do beija-flor
Uma rosa com espinhos
Pétalas ferindo o caminho.
Corta meu coração com navalha
Mas não o afague com aleivosia
Não quero no peito a medalha
E no pódio a hipocrisia.
De um “não amor”
De um “seja o que for”
Que seja longe de mim
Bem no fim
Onde tudo acaba
E a fonte secou
Onde a farsa desaba
Para você acabou.

 
                                        Jacques Manz

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Biscoitos de argila

       

- Vamos brincar de casinha João?
        Pergunta uma mãe haitiana tentando minimizar o sofrimento de seu filho faminto e  desnutrido. Senta aqui que mamãe vai preparar seu café da manhã. Então, caminha a passos trêmulos a jovem esquelética aparentando uns 53 anos e pega uma bacia velha. Coloca um pouco de água suja, lança uma gordura estranha parecendo uma margarina e acrescenta argila.
            Mistura todos os ingredientes, e as lágrimas que rolam em sua face, caem na bacia dando gosto salgado à massa. O gosto da angustia, do desespero, da falta de esperança, do esquecimento, da fome. Que sabor tem a fome?
           Logo depois, ela pega um pedaço da massa faz um biscoito redondo e põe para secar ao sol.
          - Pronto meu amor, o café está pronto.
          Então a brincadeira acaba. Mãe e filho se deliciam com aquela obra da natureza. Obra que nem o mais renomado mestre da culinária imaginaria. Obra esta, que é fruto de uma sociedade perversa que enquanto alguns se deliciam com caviar e saboreiam champagnes milionários e outros reclamam do seu diário feijão com arroz, outros seres iguais a nós estão fadados a saborear o ácido e insosso sabor da indiferença, do egoísmo e da crueldade de um sistema que para regar alguém com ouro precisa sugar a alma de outrem, até a mais faminta delas.
          Alguém aceita um biscoito de argila?

 
Jacques Manz



sábado, 6 de novembro de 2010

A virtude da fraqueza



Quando a fé falha...
Quem restará?
Quando a esperança morre...
Quem dará o final feliz?
Quando os braços não alcançam...
Como conquistar?
Quando as pernas tremem...
Como permanecer de pé?
Quando os olhos se fecham...
Como vê a vida passar?
Quando as mãos estão enrugadas...
Como fincar a bandeira?
O que seriam das respostas
Se não houvesse as perguntas?
E o que seriam das perguntas
Se não houvesse a dúvida?
O que seria da dúvida
Se não houvesse a fraqueza
O que seria da fraqueza
Se não houvesse da humanidade?
Onde se perdeu a humanidade?
Quando a fé falha...
Resta a grandeza do universo
E a perfeição da célula.
Quando a esperança morre...
Passa-se a agir.
Quando os braços não alcançam...
Utiliza-se um podão.
Quando as pernas tremem...
Rasteja-se.
Quando os olhos se fecham...
Sonha-se.
Quando a mão está enrugada...
Finca-se experiência.
O que aconteceria
Caso tivéssemos super-poderes?
Se ainda existimos
É porque somos fracos.

                                                                      Jacques Manz

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Arcanjo Miguel



Anjo meu
Sorriso safado
Anjo mau
Canta-me um fado.
Leva-me ao céu
De seu doce sorriso
Anjo meu
Pedaço de paraíso
Anjo mau
Que voe o pardal.
Quando me perdi
Te achei
Sentado sem asas
Olhos tapados
Lábios de brasa.
Queima meus pecados
Anjo meu
Eu envenenado
Anjo mau
Com o colonizador encantado
Compro-te um pedaço do céu
É anjo tal, é anjo mel
És arcanjo Miguel.

                               Jacques Manz

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Para: Mab Manz

           

              Tenho me esforçado para escrever a alguns dias. Mas, sinto-me tão vazio. Como se a fonte tivesse secado. Nada surge de novo. Nada me anima. Deleto ferozmente todas as letras que saltam na agilidade dos meus dedos no teclado, pois elas não me passam verdade, não me passam sentimento algum.
             Desta forma, deixo a arte de lado por um momento, e parto para um desabafo. Sinto falta de minhas raízes, dos meus amores, da minha identidade, dos símbolos e significados que tem sentindo para mim. Sinto falta de um ser mágico que amo com todas as minhas forças. Sinto falta do seu sorriso. Sinto falta de sua atitude protetora a zelar por mim a todo tempo. Sinto falta do seu feijão, o mais gostoso que já comi na vida. Sinto falta de você mãe.
            Eu que sempre me achei forte, e por hora insensível agora provo nas minhas lágrimas de saudade a dor te não ter seu sorriso pela manhã e não ouvir sua voz a me gritar pela casa.
           Escrevo para ti. Escrevo com minha alma gritando por seus carinhos. Escrevo com aperto em minha mente, aperto que me roubaram as palavras e que me confunde as idéias. Escrevo para o amor mais lindo da minha vida, o mais verdadeiro, o mais forte, o mais sublime, aquele que me traz refrigério, aquele que me faz mais vivo, ao seu amor.
            Deus fora tão bondoso para mim, que me deu como presente um ser tão evoluído para que eu pudesse me espelhar e também evoluir. Os dias sem sua presença não são os mesmos, eu posso estar feliz em não te ter ao lado, mas jamais estarei completo.
           Faltará a parte mais importante, a que me deixa seguro, a que me faz pisar firme no chão, a que me faz cantar, a que me faz rimar!
         Sinto muito sua falta, amo-te demais MÃE.


                                                                                       Jacques Manz